5 anos depois relembro o dia em que passei horas consecutivas em frente à televisão, fazendo um zapping frenético entre a CNN, a SKY NEWS e os canais portugueses e sem conseguir verdadeiramente acreditar que aquilo seria real. A monstruosidade das imagens era esmagadora, mas mesmo assim não consegui deixar de morbidamente assistir a todo aquele sofrimento e destruição. Nesse momento todos fomos Americanos e o mundo uniu-se na dor dos familiares das mais de 3000 vitimas.
5 anos depois o mundo recorda novamente essas vitimas e sucedem-se as homenagens. No entanto, neste dia recordo não só quem encontrou a morte e o sofrimento nesse dia 11 de Setembro, mas também os 3005 soldados americanos e 373 de outras nacionalidades mortos no Iraque e Afeganistão e principalmente os mais de 40.000 iraquianos e afegãos que se estima terem sido mortos em bombardeamentos, atentados e execuções em massa na chamada Guerra ao Terrorismo.
5 anos depois o Afeganistão continua a ser um país sem lei e estabilidade, onde o poder do governo central vai pouco além da capital e as forças da NATO mal se arriscam a sair das suas bases. Lentamente os taliban voltam a ganhar força e a aumentar a intensidade e audácia dos seus ataques. A produção de ópio atingiu um nível recorde e volta a ser a base da «economia» afegã.
5 anos depois, verificamos que o Iraque nunca esteve tão perto duma Guerra Civil e que se torna cada vez mais dificil evitar ou prevenir a violência entre os diferentes grupos rivais. Não defendo que os Americanos se devam retirar imediatamente, dado que isso apenas precipitaria o país para um vazio ainda maior do que aquele que se regista hoje. Defendo isso sim, que a abordagem amerciana, de gatilho leve, inspirada nos filmes de cowboys não resulta e que enquanto não fizerem um esforço sincero de reconstrução do país ninguém os considerará como salvadores.
5 anos depois não considero que o mundo esteja mais seguro, principalmente porque o Ocidente se limitou a fazer o mais óbvio, ou seja tentar pela força das armas eliminar todos os terroristas. Não fomos ainda capazes de assimilar que a pobreza, o desespero e a alineação de milhares de jovens que não têm perspectivas de vida os tornam muito mais susceptíveis ao recrutamento por ideologias radicais. A guerra só será ganha se o mundo for capaz de perceber que muito para além dum choque de civilizações estamos perante um choque entre um Mundo Rico e um Mundo pobre. Acredito que a população de um país com um nível de vida similar ao da Europa ou EUA se sentirá muito menos propensa para aderir a movimentos radicais, dado que terão muito mais a perder. Bem sei que tudo o que estou a dizer não passa de uma análise simplista, mas mesmo assim penso que é bastante mais verosímel do que a divisão básica usada pela administração Bush que simplesmente separa o mundo entre os Bons e os Maus.
5 anos depois continuo a acreditar que a democracia continua a ser o menos mau dos governos, mas não é o remédio para todos os males. A simples ilusão da democracia não chega para assegurar a paz e prosperidade, pelo que teremos que ser capazes de reconhecer que o nosso modelo não pode ser aplicado numa perspectiva do Copy-Paste. Espero que todos os erros cometidos nestes 5 anos não sejam irremediáveis e que sejamos capazes de enfrentar os verdadeiros problemas de uma forma lúcida e racional.
5 anos depois...