terça-feira, junho 21, 2005

Arrastão, Frente nacional e outras anormalidades…

O Portugal dos brandos costumes e da pasmaceira foi abalado recentemente por dois acontecimentos diametralmente opostos e vergonhosos que não podem ser ignorados e remetidos ao esquecimento.

Tudo começou no 10 de Junho com os acontecimentos da praia de Carcavelos. Um grupo de jovens (500?, 100?, 50?, 20?, a contagem difere bastante) lançou o caos no que parecia ser um óptimo dia de praia. A verdadeira dimensão do que sucedeu naquela tarde irá para sempre ficar dependente da interpretação que cada um fizer das imagens e relatos a que todos tivemos acesso. O que ninguém pode contestar é que a esmagadora maioria dos jovens envolvidos são de raça negra, e provenientes de alguns dos bairros mais problemáticos de Lisboa, e que a PSP apenas recebeu uma participação por furto.

Este arrastão ou maré negra como alguns lhe chamaram levou rapidamente um grupo de “cidadãos preocupados” a convocar uma manifestação contra a criminalidade. Vistas as coisas de forma simplista, esta deveria ter sido uma das manifestações mais participadas de sempre em Portugal, já que se trata de um tema que preocupa toda a gente. No entanto, aquilo a que assistimos não foi mais do que um encontro de propaganda de um Portugal puro e livre de imigrantes. A conotação racista e xenófoba que foi colada a esta manifestação não fez mais do que minorar um problema tão grave como é o da criminalidade.

Pensar que a solução para acabar com a criminalidade é fechar as nossas fronteiras e expulsar os imigrantes que cá estão é o mesmo que atirar areia para os olhos das pessoas. Para mim o factor potenciador do comportamento delinquente não é racial, mas sim a exclusão social. Não se trata aqui de desculparmos o aumento da criminalidade de grupo, mas sim procurar entender as suas raízes para que seja mais fácil de controlá-lo. Sempre acreditei que não havia nada mais perigoso para uma sociedade que ter indivíduos que julgam não ter um futuro viável e para quem todas as oportunidades parecem estar fora de alcance. Quem não se sente parte integrante de um país e de uma sociedade jamais poderá ter o mínimo remorso em cometer actos ilegais. O que defendo é que se preste mais atenção à integração das 2ª e 3ª geração de imigrantes, porque são eles os que verdadeiramente se sentem apátridas (não são Portugueses, mas também são vistos com desconfiança nos seus países de origem), tal como sucede com a comunidade Portuguesa espalhada por esse mundo fora. Quanto aqueles que dizem que é preferível a imigração de Leste porque para além de mais qualificados e Brancos não criam tantos problemas, a única coisa que lhes posso dizer é que se não for prestada a devida atenção a estes imigrantes, cairemos no mesmo erro que cometemos até agora. Lembrem-se que esta é uma corrente migratória recente que só agora começou a estabelecer-se em Portugal, não existindo portanto uma 2ª geração.

Existem tantas formas de potenciar a integração social destes jovens que acaba por ser chocante o abandono a que os votamos. Há que actuar decididamente em duas vertentes: a repressiva, no sentido de que é importante demonstrar que não serão tolerados comportamentos delinquentes e criminosos; e a da integração, em que o Estado terá um papel muito importante ao nível da implementação de actividades extra-escolares que tornem a escola um espaço não só de aulas mas também de ocupação dos tempos livres e dos apoios a associações e movimentos que lutam por oferecer um futuro melhor a quem o desejar. Isto para não falar no fomento dos cursos técnicos equivalentes ao 12º ano e da actividade desportiva que poderia mostrar aos jovens que existem outras saídas para além do tão glorificado (até excessivamente em Portugal) “Canudo”. Se a única opção para eles continuar a ser entre o trabalho na construção civil e a criminalidade a escolha de muitos será óbvia.

Peço desculpa por vos maçar com um texto tão longo e quiçá desconexo, mas tal como todos vós eu quero viver sem medo de sair à rua, andar de transportes públicos ou ir à praia. No entanto também tenho a certeza absoluta que essa segurança não será obtida através de uma sociedade repressiva e xenófoba. O radicalismo não é mais do que uma fachada do Totalitarismo (seja ele de Esquerda Ou Direita) e eu da minha Liberdade nunca abdicarei.

3 Comments:

Blogger Susana said...

Concordo plenamente com o que dizes e para quem deve ouvir todos os dias relatos sanguinários do Cais do Sodré (onde andei maioritariamente acompanhada por policia) a questão da (in)segurança é cada vez mais factor de vida ou morte.
Ontem saí do trabalho à uma da manhã e não havia ninguém na cidade do Porto, só eu a ouvir os meus passos e com a minha assustadora sombra até ao carro. Nenhum transeunte, nenhum polícia...
Há tempos eu e o Destro ouvimos relatos de um pai cujo filho, e«na casa dos 20 anos, já tinha sido assaltado várias vezes à noite na zona de Cedofeita, uma vez até aconteceu durante o dia ainda. Posso dizer que sou uma sortuda?
Tem de se fazer efectivamente algo sobre isso e haverá alguém que explique que atitudes racistas e xenófobas não resolvem a questão, mas só a inflamam?

8:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Segundo me pareceu nas imagens, muitos banhistas que estavam na praia de Carcavelos também eram negros. Ou seja, aqueles miúdos assaltaram porque assaltaram e não por serem negros. Estas teorias de que a delinquência está no sangue deixam-me tão arrepiada quanto os olhares dos neonazis que se manifestaram em Lisboa...
Mas é assim tão complicado de ver, olhando para as pessoas que passam na rua, como somos todos mestiços??!! Eu acredito que daqui a umas centenas de anos, quando toda a humanidade for mulata, estas tretas vão ser apontadas nos livros como uma ridícula fraqueza do nosso tempo.
Eu em Marrocos fui confundida com uma nativa, por isso acho que já me posso considerar mestiça. E odiar os neonazis com mais propriedade. Ou será que devo pegar no meu sangue contaminado e voltar "à minha terra"?

11:17 da manhã  
Blogger DiO®™ said...

Não posso deixar de comentar um post tão interessante como este.
Obviamente que concordo, mas de forma relativa com o que foi escrito pelo meu amigo “canhoto”.
Concordo que se deva fazer um verdadeiro plano de integração para os emigrantes que queiram vir trabalhar e mais urgente ainda, integrar aqueles que já cá estão, só que não podem ir mais além, porque lhes falta o papel magico. Mas acho perigoso, esse processo CEGO de dar a nacionalidade Portuguesa a imigrantes de 2ª geração. Pois qualquer um vinha para cá, tinham uma criança, e pronto, como eram pais de um Português tinham logo o direito de cá estar. Estas coisas não podem ser feitas assim com o coração, deve haver uma solidariedade, para quem procura um futuro melhor, mas também alguma frieza, para que possamos viver todos em Harmonia.
Atravessamos neste momento uma crise económica, com a o desemprego a crescer de forma acelerada. Acho que neste momento, deveremos ser um pouco mais egoístas, e dar as melhores condições aos Portugueses, para mais tarde podermos receber, bem quem queira vir. Pois se continuamos assim, estes grupos de extrema direita, vão proliferar e repetir-se manifestações daquelas, cada vez com mais adeptos. O fenómeno da Xenofobia é um fenómeno cíclico. Vivemos um extremo há pouco mais de 60 anos... bastou um louco para acender um rastilho de uma nação.

4:19 da tarde  

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