sábado, dezembro 02, 2006

Metro do Porto - alguns esclarecimentos e comentários

A semana que agora terminou foi tudo menos positiva para o Metro do Porto. Se não vejamos:

1 - estação do campo 24 de Agosto esteve encerrada vários dias em resultado do mau tempo
2 - um casal da Guarda conseguiu o feito de percorrer com o seu automóvel quase 1 Km do túnel de S. Bento
3 - uma auditoria do Tribunal de Contas acusa a gestão da empresa Metro do Porto de várias irregularidades e questiona a atribuição de cartões de crédito aos admnistradores não executivos.

Esta auditoria do tribunal de contas já levou a uma vigorosa e violenta resposta por parte da administração do Metro do Porto. Ao mesmo tempo as conclusões desta auditoria servem que nem uma luva ao Governo, já que recomendam que este assuma a maioria do Capital social da empresa e a sua gestão. Que o Estado o faça não me incomoda minimamente, já que se é ele que em última instância paga as obras e serve de avalista aos empréstimos contraídos terá todo o direito de tomar as rédeas da gestão. O que não aceito é que para justificar essa decisão se sirva dum ataque à gestão levada a cabo pela comissão executiva do Metro liderada por Oliveira Marques. Não aceito também que se fale tanto na comunicação social dos custos das obras do Metro do Porto e do dinheiro que o Estado gasta nesta empresa, quando a realidade é que se compararmos as empresas de transportes públicos do Porto com as de Lisboa chegamos a conclusões muito interessantes. Se não acreditam vejam o quadro seguinte:

Porto

LISBOA

Metro

STCP

Metro

Carris

2005

2006

2005

2006

2004

2006

2005

2006

Passageiros (milhares)

18.481

36.000

209.100

200.000

179.700

191.280

222.800

210.000

Receitas por passageiro

0,55 €

0,25 €

0,28 €

Subsídios exploração (milhares de euros)

2.245,6

2.522,9

14.525

16.318,4

19.063

22.723,2

45.458,5

por passageiro

0,12 €

0,07 €

0,07 €

0,08 €

0,11 €

0,12 €

0,22 €

Funcionários

137

1796

1717

2787

Passageiros por Funcionários

134.898

116.425

104.659

79.943






















Analizando a receita por passageiro verificamos que em média no Porto cada passageiro pagou 55 cêntimos por viagem, enquanto que em Lisboa esse valor se ficou pelos 28 cêntimos, resultado das diferenças verificadas nas tarifas praticadas. Caso não saibam o Metro do Porto é significativamente mais caro que o de Lisboa, dado que existe a intenção de que seja o utilizador a suportar o custo real da viagem e não o Estado. Pelos vistos em Lisboa não existe essa perspectiva.

Passando às indemnizações compensatórias que o Estado atribuí pela prestação do serviço público mais uma vez detectam-se algumas desigualdades. Em 2005, o Metro do Porto recebeu 12 cêntimos por cada passageiro, valor semelhante ao atribuído ao de Lisboa para o ano de 2004. Mas em 2006 a situação altera-se, já que o Metro do Porto vê duplicar o nº de passageiros mas a indemnização apenas sobe 12% o que dá cerca de 7 cêntimos por passageiro. Para o Metro de Lisboa o cálculo foi diferente e irá continuar a receber os mesmos 12 cêntimos. Se olharmos para os STCP e a Carris a diferença ainda se acentua mais, já que em 2006 os autocarros do Porto receberão 8 cêntimos por passageiro contra os 22 cêntimos atribuídos à Carris de Lisboa.

Para terminar fui comparar o rácio entre passageiros transportados e o nº de funcionários das empresas de transportes. A conclusão foi que em média o Metro do Porto e os STCP transportam muito mais gente por funcionário do que o que se verifica no Metropolitano de Lisboa e na Carris. Ou seja serão em princípio mais eficientes e com menores custos laborais. Isto sem falar nos dias de paragem provocados por Greves nos transportes públicos de Lisboa Vs os do Porto.

Acrescento ainda que para 2006 (segundo notícia do DN) prevê-se que em conjunto o Metro do Porto e os STCP apresentem um prejuízo de 89 milhões de euros contra os 202 milhões de euros de prejuízo previstos para o Metropolitano de Lisboa e a Carris. Por passageiro daria 38 cêntimos de prejuízo no Porto e 51 cêntimos em Lisboa!!!

Pelos vistos o melhor seria mesmo que o Governo assumisse a gestão do Metro do Porto, poderia ser que assim o tratamento dado fosse igual ao de Lisboa. Isto para não falar do facto de a expansão da rede do Metro do Porto estar neste momento congelada, ao contrário do de Lisboa que inclusivamente vai gastar alguns milhões de euros a ligar a Estação do Oriente ao futuro ex-aeroporto da Portela.

Concluindo o meu raciocínio, sou capaz de aceitar as críticas feitas ao Metro do Porto, porque acho que este não é perfeito e ainda não atingiu a totalidade das suas capacidades, para além de durante muitos anos ter servido de palco a lutas e tricas entre os autarcas da região. Mas o mais grave é que todas as obras públicas e dinheiro gasto no Porto sejam sempre tão questionados ao contrário do que se passa com o investimento público realizado em Lisboa.


P.S.-todos os cálculos foram efectuados com base nos Relatório e Contas da Metro do Porto (2005), STCP (2005) e Metropolitano de Lisboa (2004, já que o de 2005 ainda não foi aprovado). Quanto à Carris, não consegui encontrar disponível na net o seu Relatório e Contas

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